A política nacional para o Indío

  Com o avanço da política indigenista em nosso país, logo pensamos em eleições e na atual representatividade que os indígenas tem em nosso congresso, as notícias poderiam ser melhores, mas infelizmente não são. Um povo habituado com a política interna de suas aldeias, mesmo que com as diferenças étnicas existentes, deveriam ter mais espaço no nosso país. Quem mais pra saber das necessidades e ideias que as próprias pessoas que passam pelas dificuldades? Que pelas próprias pessoas que perderam e ainda perdem as suas terras para ruralistas, perdem suas terras para qualquer pessoa que tenha mais poder. Aí voltamos para a pergunta inicial, por que tão baixa representatividade?
  De acordo com o PIB (Povos Indígenas no Brasil) na eleição de 2008, cerca de 350 indígenas disputaram cargos eleitorais, sendo que 70% deles conseguiram a eleição, um número alto poderíamos dizer, se não fosse o pequeno detalhe da inexpressividade desse total, já que os cargos conquistados foram de pequeno porte, em cidades praticamente formadas apenas por indígenas, com menos de 10.000 eleitores. É um avanço, sim. Mas não poderíamos comparar esses cargos com os que tivemos em pleito esse ano, como senador, deputado federal e estadual, como presidente. Alguns podem até se assustar com as minhas pretensões, um indígena Presidente do Brasil? Sim! Por qual motivo não? Não consigo encontrar um povo mais bem preparado para assumir esse cargo, eles entendem da natureza, surgiriam leis ambientais maravilhosas, eles entendem o que é trabalho em equipe, tem uma imensa sabedoria. Não são corruptíveis por poder, já que desde a infância aprendem o real significado da luta pela sobrevivência.
  Voltando para as eleições de 2008, conseguimos ver um número significativo de prefeitos indígenas que conseguiram se eleger, como Pedro Garcia na cidade de São Gabriel da Cachoeira no Amazonas. Contamos também com vereadores em Minas Gerias e em outras localidades, sendo que quase metade deles foi fruto de reeleição, o que nos demonstra um trabalho muito bom, merecedor de mais tempo no poder. Podemos ver isso também como união dos indígenas e dos indigenistas, uma união para uma maior representatividade, para terem pessoas que olhem por eles, que lutem a mesma luta, que deveria ser de cada cidadão brasileiro, de cada pessoa que nasceu aqui, que tem o sangue indígena em suas veias, seja de uma forma mais forte ou de uma maneira mais fraca. Somos todos filhos da terra mãe e deveríamos defender nossos irmãos como um todo. Defender das garras de ruralistas e de pessoas que querem o mal, não só dos indígenas e sim do meio ambiente.
  Agora voltemos nossa atenção para as eleições desse ano, será que preciso novamente fazer a pergunta sobre representatividade? Líderes indígenas, ao todo 85, se juntaram para tentar somar poder, agora eu te pergunto, por que quase 100 líderes indígenas se juntariam? Contra o que estão lutando? A resposta é simples, contra a PEC 215, sei que nem todos tem o conhecimento sobre essa emenda constitucional então uma explicação rápida: Se trata de passar o poder das demarcações de terra para o congresso nacional. Algo que traria um enorme prejuízo para os indígenas, tiraria o pouco poder que a FUNAI tem no Executivo, ou seja, seria a porta aberta para os ruralistas entrarem e terminarem o massacre que começou a centenas de anos atrás. Um dos líderes que disputaram cargo para Senador foi Kaká Werá, que teve o meu voto de forma consciente, pois conheço seu trabalho e sua história. Conheço também um Xavante que disputou para Deputado Distrital, o nome dele é Rafael Weree, uma imensa perda para o Distrito Federal ele não ter sido eleito.
  Os indígenas somam cerca de 817.963 pessoas distribuídos em 305 etnias de acordo com um senso feito pelo IBGE no ano de 2010, então mesmo que os 85 candidatos fossem eleitos ainda seriam poucos em relação ao número de pessoas que eles defendem e infelizmente não tivemos uma margem alta nessa eleição, não tão boa quanto a de 2008. O que nos impede de eleger mais candidatos indígenas? Quando falamos de política para os indígenas pensamos logo em Mario Juruna, primeiro deputado federal eleito no ano de 1983, mas não deveríamos ter parado com esse candidato, existem milhares de outros indígenas tão bons quanto e que fariam um trabalho maravilhoso como ele fez. Volto a citar aqui o Kaká Werá, cito também Ailton Krenak, um homem admirável, inteligente e acima de tudo humilde, que se preocupa com a população em si, pois estamos todos interligados.
  E se por um lado tivemos um aumento significativo de iniciativas em prol dos índios o declínio das leis foi muito pior. As demarcações de terra paradas, a fome, a falta de saúde, a insegurança. Se os não-índios sofrem com tudo isso imagina uma população de quase 1.000.000 de pessoas que nem a menor infraestrutura tem. Vimos em determinado momento, uma enorme mobilização para os índios Guarani Kaiowá, pessoas trocando fotos do perfil do facebook, o massacre em destaque, mas e as outras mais de 300 etnias que sofrem caladas? E os Avá-Canoeiro que foram exterminados em um massacre muito pior? E os Akuntsu que lutam por uma sobrevivência que sabemos não vai acontecer?
  Os indígenas precisam e merecem mais REPRESENTATIVIDADE dentro do congresso nacional, não apenas por eles, mas por todos nós. Para que exista salvação. Para que em um futuro, espero que não longínquo, podemos nos considerar irmãos. Para que não existam mais índios e não-índios e sim a população brasileira, um povo que se respeita, se ajuda e acima de tudo se aceita. 



Kaká Werá
Índios Guarani Kaiowá (revista veja)



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