Os primeiros
contatos com os não-índios se deu quando os seringalistas fizeram excursões pela
região em busca de escravos, mas pouco se sabe dessas excursões pela falta de
informações que foram escritas ou armazenadas. A chegada desses seringueiros,
infelizmente, não foi algo passageiro, pois para se ter a borracha as árvores
precisam ser mantidas e preservadas, o que fez com que permanecessem no local,
independente dos autos e baixos do mercado vigente. Algo muito chocante mas
corriqueiro na época foi a violência sofrida pelos indígenas, que além das
doenças trazidas pelos homens brancos foram obrigados a se deslocarem de seu
local de origem em violentos confrontos com os mateiros (homens responsáveis
por abrir as estradas para as seringas), que além de seu serviço habitual deveriam
limpar a área dos índios arredios. Com o tempo e a pressão dos seringalistas os
índios foram se aquietando, os que não eram a favor mudavam de região, sendo
que até pouco tempo atrás existiam tribos no Peru que evitavam qualquer tipo de
contato com os não-índio.
Na parte espiritual
eles acreditam que os verdadeiros xamãs, conhecidos como mukaya que continham
em si o muka, morreram a muito tempo, mas isso não os impedem de realizar seus
rituais e cerimônias que se tornaram menos poderosas mas aparentemente do mesmo
modo eficientes, talvez pelo fato de que os mukaya tinham apenas o privilégio da
retirada do muka, enquanto o conhecimento da comunicação com os yuxin (mundo
espiritual) é restrita dos mais velhos. Esse fato deixa ambíguo o fato da
existência ou não dos xamãs, pois muitos detém o conhecimento da tribo. Alguns
acreditam que essa frase pode ser interpretada pelo modo de que muitas regras
de abstinência eram afligidas aos mukaya, regras essas que não tem poder sobre
os mais velhos da tribo. Algo de suma importância é o contato feito com o
yuxin, pois os Kaxinawá acreditam que as doenças e coisas ruins estão nesse
plano, sendo que apenas o mediador que contém os conhecimentos pode apaziguar
esses males. A iniciação no xamanismo pode ser fita tanta de livre e espontânea
vontade, quando o interessado busca aprender, quanto pela escolha dos yuxin que
conseguem enxergar o muka existente no coração do escolhido. Vale ressaltar que
qualquer um pode tentar ser um xamã mas nenhum conhecimento pode criar o muka e
apenas quem tiver essa substância poderá de fato extrair os poderes necessários
para os rituais.
Os mitos de criação
desse povo estão sempre ligados a algum animal que os ensinou. O animal é o “huni
kuin encantado” e o yuxin pertencente nele ensinou aos homens tudo que eles
deveriam saber. Alguns exemplos são: o esquilo que ensinou a arte de plantar
(pela sua figura de estocagem de comida, algo que é necessário para aprender o
plantio), o macaco que pelos seus hábitos ensinou como se deve copular, a rata
que ensinou como são feitos os partos, a aranha com o dom da tecelagem e muitos
outros animais.
A organização social
deles é fortemente fundada na divisão dos sexos, sendo que as atividades sempre
são feitas com as mulheres de um lado e os homens do outro, o que é muito
importante nos rituais. As crianças são ensinadas desde cedo as atividades do
cotidiano e com o passar dos anos a dificuldade dessas atividades vão
aumentando. Logo quando nasce a criança recebe o seu nome e tem o período da
infância para se adaptar aos poucos com ele, os termos de parentesco também são
ensinados nessa mesma época e depois que eles são gravados e dominados os nomes
próprios vão sendo substituídos por esses termos de parentesco.
Existem vários tipos
de rituais praticados por eles, sendo que alguns são:
- Txidin: Caracteriza-se pelos cantos da criação do mundo, pela dança do líder e pelo acompanhante. É feito com vários elementos e cada um deles tem a sua característica e importância bem estabelecidas, sendo que de um lado ficam os filhos da onça e do outro os filhos do brilho, complementando um ao outro no mito da criação;
- Katxanawá: É o ritual da fertilidade e normalmente é feito várias vezes ao ano. Basicamente é a representação em dança dos yuxin da floresta em torno de um tronco que foi cortado, descascado e esvaziado dentro da floresta pelos homens que fazem o papel de invasores;
- Festa do fogo novo: Consistia na mudança do fogo velho para o fogo novo de forma ritualística, com caçadas que davam alimento para vários dias de festa. Hoje em dia esse ritual perdeu seu significado pois o fogo novo pode ser e é feito todos os dias;
- Casamento: O interesse nas meninas da tribo pelos homens se torna legítimo após a primeira menstruação, uma série de fatores pode influenciar na escolha do pretendente, como ser um primo próximo da mesma aldeia no caso do primeiro casamento. Antes do casamento ser consumado a mãe consulta a filha sobre o pretendente, que consultou a mãe que por sua vez vai consultar o marido. O casamento é consumado a partir do momento que o pretendente começa a dormir na casa do sogro, caso ele já tenha uma esposa, deve-se construir uma habitação próxima da casa da pretendente onde eles irão morar juntos. O casamento em si não é considerado importante o suficiente para se fazer uma festa e o máximo que ocorre é o ritual descrito.
- Outros rituais praticados: Nixpupima e Dau.
A arte é algo
muito importante para eles, as pinturas corporais podem ser feitas em ocasião
das festas ou pelo simples fato de gostarem de se arrumar. As crianças não
recebem desenhos apenas são enegrecidas com a pasta do jenipapo dos pés à
cabeça enquanto os adultos tem o rosto todo pintado. A pintura com o jenipapo é
considerado algo feminino, nas festas muitas delas podem ficar sem os desenhos
mas no cotidiano quando o marido trás o jenipapo da floresta, logo se animam em
fazer a pasta e pedir para alguém as pintar. Os mesmos formatos das pinturas de
rostos podem ser encontrados nos corpos, cerâmicas, tecelagens e outros
diversos meios de representação artística.
A maioria das
atividades de produção são feitas pelas mulheres, desde o mingau até a
preparação dos alimentos arranjados nas caçadas. Os trabalhos cotidianos, como
lavar roupa, o trato da cozinha, da cerâmica, do algodão, da fabricação de
alguns tipos de cestos para o uso doméstico e do roçado também são atividades
femininas, exceto o plantio do amendoim que é feito por homens e mulheres.
Enquanto que a principal atividade feita pelo home é a da caça, os meninos a
partir dos oito anos de idade já podem acompanhar os pais nesses eventos. Outras
atividades feitas pelos homens é o preparo da terra para o plantio, a pesca e a
coleta de frutas silvestres (algo que também pode ser feito pelas mulheres).
Mantendo a cultura
Uma iniciativa muito
bacana para a preservação da cultura dos Huni Kui é o livro Uma Isi Kayawa – O livro
da Cura, que foi idealizado pelo pajé Agostinho Manduca. Seu sonho era que todo
o conhecimento das ervas medicinais que possuía não fosse perdido quando
morresse, infelizmente quando o livro foi lançado o pajé já tinha falecido e
não pode contemplar a sua obra idealizada. O livro foi lançado no rio de
janeiro, cerca de três dias atrás e a mostra de inauguração ainda está em
aberto. Logo abaixo colocarei uma imagem do livro e um vídeo explicando melhor
a ideia do seu conteúdo.
Vídeo sobre o livro:
Mais: imagens:
Vídeos sobre a tribo:
Fonte de conhecimento:
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