“Minha casa era aqui,
grande.
Moravam muitas
pessoas,
Uma família grande.
Aqui as
redes...muitas.
Os índios tocaram
muito maracá de noite.
Plantaram mandioca.
Precisa tocar pra
nascer planta nova.
Depois que parou a
música dos maracás...
Já era quase de
manhã.
Então chegaram muitos
homens
Atiraram muito
Muito chumbo no meu
povo
Acertava na cabeça e
o coração parava
E índio caia.
Eu chorei muito
Índio homem, mulher,
menino bonito, morreu tudo
Acabou.”
Relato de uma das
sobreviventes do massacre contra
Os Avá-Canoeiro feito
em 1970 por fazendeiros e
Moradores dos povoados ao redor da tribo.
Um povo praticamente
exterminado pelos homens brancos, sobrepujados, com medo e sem ter pra onde ir.
Esses são os Avá-Canoeiro, povo que está localizado no TO e em GO, sendo que
alguns grupos vivem isolados para preservar a cultura, passando pouco dos 25
indivíduos restantes sem perspectiva alguma de um futuro melhor. A última tribo
foi exterminada em 1970, deixando apenas alguns sobreviventes.
Conhecidos por ser
um povo sobrevivente e com muita forca de vontade, pois com o crescimento dos
garimpos, vilas e cidades, eles foram sempre obrigados a se deslocar,
tornando-se nômades e adquiriram também grande habilidade para caça e
camuflagem, aparecendo para o homem branco apenas quando lhes convinha.
Hoje existem quatro
grupos, sendo que dois deles tem contato permanente com a FUNAI, residindo na
região de Goiás e da Bacia do Araguaia, os outros dois vivem isolados mudando
de região constantemente.
O primeiro contato
desses índios com o homem branco foi por volta do século 19, na região do rio
Tocantins, sendo que desde essa época sempre travaram combates com os
crescentes grupos que invadiam seu território.
Por volta de 1820 passaram a morar não apenas nas margens dos rios, que
ficavam em caminho direto com os crescimento da pecuária, mas também nos altos
das montanhas. Decorrente desses conflitos algumas tribos foram em direção ao
rio Araguaia enquanto outros continuaram nos arredores de Goiás. Um dos ataques
mais violentos foi por volta de 1970, quando fazendeiros juntamente com
habitantes locais pegaram uma tribo desprevenida e mataram cera de 15
indivíduos que ali estavam, juntando os corpos em uma das habitações e
colocando fogo. Uma das maiores ameaças
atuais aos Avá do Tocantins é a usina da Serra da Mesa e todo o impacto
ambiental que ela causou, sendo que ela é vizinha a terra dos Avá, a “solução”
proposta foi um convênio com a FUNAI, dando 2% dos valores de royalties para os
índios, mas esse valor é administrado pela FUNAI até que eles acreditem que os
índios consigam fazer isso sozinhos, mas além da inundação causada por essa
hidroelétrica, existem estradas e cabos de alta tensão referente a esse projeto
que passam por dentro do território.
Em relação ao modo
de vida, são grupo que forçosamente se tornaram nômades, esquecendo grande
parte da cultura de antes. Com o grande avanço dos não-índios pelas terras
foram forçados a deixar de lado o artesanato e o cultivo da agricultura,
retomando apenas quando tinham uma área segura de existência. Sobrevivendo assim das caças e coletas que
conseguiam encontrar pelo caminho. Uma coisa muito válida de se comentar é a
grande capacidade de adaptação que eles tem, pois a cada novo local existiam
novas mudanças climáticas e territoriais. Como o artesanato as artes plumárias
e pinturas corporais são praticamente inexistentes. Os bens materiais sofreram
grandes mudanças com o decorrer do tempo, existindo até o contato com materiais
de metal, o que se tornou um problema quando eles se isolaram, pois não tinha
outra fonte de conseguir esses materiais a não ser com o furto ou pilhagem. A
necessidade os tornaram grandes mestres em reciclagem de materiais usados,
carcaças velhas de carros poderiam se tornar lâminas rústicas, por exemplo.
Uma das estratégias
de sobrevivência utilizadas por eles é a formação de grupos pequenos e com alta
mobilidade, podendo se deslocar rapidamente pelos territórios. São subdivididos
em dois grupos, um com mais isolamento dos regionais e outro com um pouco
menos, sendo que o segundo tem uma maior dependência dos recursos e das roças
dos regionais. O primeiro tipo de regime era praticado pelos residentes do
Tocantins, que além da caça e coleta também utilizavam a agricultura como modo
de subsistência, já o segundo por ser mais nômade que o anterior dificilmente
faziam roças e a maior fonte de alimentação eram os gados que matavam das fazendas
vizinhas de onde estavam, o que se tornou um problema depois do contato com os
funcionários da FUNAI, pois foram impedidos de conseguir sua alimentação dessa
maneira. Os índios acreditavam que se não podiam se alimentar assim era uma
obrigação desses funcionários os alimentarem o que causou grande sedentarismo e
ressentimento, por que a FUNAI não os alimentava para incentivar o cultivo das
roças e a procura pela caça, o que foi visto como sinônimo de mesquinharia
pelos Avá-Canoeiro.
Não existem
iniciativas em relação a educação ou até mesmo saúde, sendo que os mais jovens
com muita dificuldade conseguem desenhar os seus nomes e independentemente da
doença que os aflijam não terão um tratamento específico, ficando à míngua
total ou utilizando os conhecimentos de curas que eles tenham. Um povo sem
perspectiva de um bom futuro, tendo a maior chance de sobrevivência na junção
das tribos, o que é praticamente impossível pelas diferenças culturais que
desenvolveram, vivendo em condições escassas de saúde e alimentação, sem
parceiros para dar continuação a linhagem, essa é a triste realidade que assola
os Avá-Canoeiros.
Abaixo segue um documentário muito interessante sobre esse povo:
Fonte de informações:
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