Série Povos da Amazônia: Introdução

Para um bom entendimento do assunto, devemos voltar alguns séculos atrás e dar uma pequena e abrangente introdução sobre os primeiros contatos dos não-índios com a cultura indígena Amazônica; e situar o leitor das condições climáticas e como isso acarretou de forma negativa na conservação dos artefatos mais delicados que poderiam ser encontrados naquela região.
  Após a existência da América ter sido revelada para a Europa e o Brasil ser descoberto, as margens do Rio Amazonas foram pouco a pouco exploradas por navegantes mais ousados. Os primeiros a terem algum contado com as densas florestas amazônicas foram os castelhanos do Peru, mas não conseguiram tomar conta do território, isso só veio a acontecer quase meio século depois com a chegada de aventureiros ingleses e holandeses.
  Pelo Tratado de Tordesilhas, firmado entre portugueses e espanhóis, toda a parte norte pertencia a Espanha e por ela deveria ser explorada. Então um navegante espanhol, Vicente Ianez Pinzól, estimulado por riquezas desconhecidas, no começo do ano 1500 navegou pelo delta do Rio Amazonas, conhecendo assim, paisagens mais densas, animais exóticos e coloridos. Nessa mesma época alguns viajantes portugueses se deslocaram para o norte brasileiro, mas nenhum dos dois reinos tomou posse. Por ser uma região costeira tinham dúvidas se o tratado ali também valia.
  Os espanhóis que achavam aquela terra sua por direito, sentiam-se na obrigação de explorá-la, além do que, imaginavam que ali poderia conter muita riqueza. Então em 1541, Francisco Orellana, com quase 5.00 homens, fez uma expedição em busca de terra a leste do Império Inca. Aqui chegando, tiveram uma grande decepção, pois não encontraram as recompensas almejadas, o grosso do grupo resolveu voltar para o Peru, onde os castelhanos estavam estabelecidos e Orellana com alguns homens ficou para explorar o curso do rio.
  Após algum tempo os mantimentos acabaram e já não tinham como voltar. Desesperados por não encontrarem povoamentos próximos para reabastecer o bergantim, a única possibilidade que tinham era prosseguir. Até que em 1542 encontraram uma terra povoada, com índios que mesmo assustados deram guarita aos expedicionários famintos. Orellana vendo que os índios da região tinham boa vontade resolveu construir ali um assentamento, em nome do rei, tornando aquelas terras, até o momentos não exploradas, propriedade dos espanhóis.
  Logo após continuaram a descer o rio, enfrentando novamente a fome, até chegarem a um imenso povoado, de um grande senhor conhecido como Machiparo; lá enfrentaram inúmeros homens em condição de combate, mas após algum tempo de luta Orellana e seus homens venceram, tomando o porto para si. Nesse grande povoado encontraram caminhos largos pela terra adentro e resolveram seguir por eles. Mais para frente entraram nas terras de outro grande senhor e se espantaram com a beleza e o grau de perfeição das cerâmicas ali encontradas, todas muito coloridas e bem moldadas, melhores que todas que já tinham visto. Encontraram também ídolos, tecidos em palha. Espanto mesmo tiveram em um povoado mais adiante, encontrando esculturas esculpidas em alto relevo, vestimentas plumárias de várias cores que os índios utilizavam para celebrar suas festas, demonstrando assim o alto grau de desenvolvimento dos povos ali presentes.
  Continuaram os expedicionários descendo o rio até chegarem no território das Icamiabas, que eles chamavam de Amazonas; lá enfrentaram muitas dificuldades e foram hostilizados pelas guerreiras. Mesmo assim conseguiram prosseguir viajem até encontrarem terras povoadas por índios pacíficos. Por fim, algumas léguas após, Orellana encontrou o mar, indo aportar no Golfo de Pária, terminando assim sua jornada pelas terras amazônicas.
  Muito tempo se passou e essa imensa viajem de Orellana foi praticamente esquecida, pois os espanhóis estavam satisfeitos com suas terras e os portugueses ainda enfrentavam certa dificuldade em dominar a marinha potiguara e cearense. Foi então, após quase meio século, que aventureiros ingleses e holandeses resolveram dominar a região, em busca de produtos florestais como madeiras e o urucu, além de tudo que a floresta e os rios poderiam oferecer. Dispunham assim, os ingleses e batavos, dos elementos necessários para um grande empreendimento colonial, mão de obra escrava trazida da África e matéria prima o suficiente para ali permanecerem.
  Muitos fatos históricos ocorreram após isso, mas no momento ficaremos com essa breve introdução. Agora que conhecemos um pouco mais sobre a região e sua descoberta pelos não-índios, podemos dar completa atenção aos artefatos ali encontrados. A maior parte era de cerâmicas e louças, pois, ao contrário do Peru, o clima extremamente úmido e quente dessa região foi muito desfavorável para a preservação de objetos mais delicados feitos de madeiras, arte plumária, traçados e até mesmo alguns tecidos mais finos, restando apenas artefatos de louça e pedras, sendo que esses últimos eram difíceis de serem encontrados pela escassa matéria prima na região. 

Viajem de Orellana


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