Os
Kamaiurá contando com cerca de 467 indivíduos pertencentes a família
linguística Tupi-Guarani estão localizados no Mato Grosso e são conhecidos pela
sua grande importância cultural, fato identificado nas diversas relações
intergrupais que eles estabelecem com etnias semelhantes em suas
características mas com linguagens diferentes. Um desses rituais intergrupais já
foi comentado, de uma maneira bem sucinta aqui no blog, o Kuarup.
Em relação ao histórico de contato deles,
deixo que as palavras do professor indígena Aisanain Kamaiurá expliquem por
mim:
“Antigamente o
povo Kamaiurá morava onde era a aldeia velha do Prepori, o lugar que se chamava
Krukitsa. Depois eles mudaram para Wawitsa, onde hoje é o posto Pavuru. Nesse
lugar os povos Suiá e Yudjá estavam atacando os Kamaiurá. Depois eles se
mudaram para Jacaré e outros atravessaram o rio e foram para a lagoa abrir uma
aldeia. De lá eles mudaram para o outro lado do lago. Hoje em dia tem pessoas
morando nessa aldeia ainda. Lá eles fizeram cinco aldeias porque eram muitas
pessoas. Passaram-se muitos anos e Orlando Villas-Bôas chegou lá na boca do
Tuatuari. Os Kamaiurá foram lá só para ver os brancos. Aí eles fizeram uma
aldeia bem grande e metade dos Kamaiurá foi para lá por causa do branco. Orlando
desceu o rio, ele queria fazer um posto lá no Morená. Ele pensou que era limpo,
mas era sujo. Ele desceu para Awara´ï. Lá eles fizeram um pouso de avião. Nesse
lugar tem gente morando, é a aldeia Boa Esperança. Os Kamaiurá vieram atrás dos
brancos. Depois de dez dias, um Kamaiurá chamado Amarika, que conhecia todos os
lugares do Xingu, falou para o Orlando do Jacaré, disse que era um lugar bom.
Orlando conversou com o pessoal dele e no outro dia foram lá. Os Kamaiurá que
estavam com ele voltaram, saíram do Awara´ï bem cedo, dormiram lá na aldeia do
Trumai, uma aldeia que se chamava Inarija. Hoje em dia ninguém mora mais nesse
lugar. De lá eles foram para o posto Leonardo, onde muitos povos se juntaram:
Kamaiurá, Yawalapiti, Waurá e Trumai. Eles fizeram uma grande festa no posto Leonardo.
Então Orlando pediu para o cacique abrir picada para a aldeia Kamaiurá.”
Aldeia
As diversas fases de construção de uma casa kamaiurá. Foto: Carmen Junqueira, 1972. |
A aldeia segue um modelo típico dos povos do
Xingu, com as casas cobertas de sapê e teto arredondado seguindo até o chão. Na
área central de todas as casas fica o pátio, de lá saem diversos caminhos,
tantos para as áreas públicas como para as casas particulares. Um dos caminhos
mais importantes é o que leva para a casa das flautas, típico instrumento dessa
etnia que só podem ser vistos ou tocadas por homens.
Em frente à casa de flautas, virado para o
leste, está o banco da roda dos fumantes, local que os homens se reúnem para
conversar sobre o dia, combinar novas caças ou pescarias, aonde também recebem
visitantes de outras aldeias, realizam as lutas do huka-huka e fazem os
pagamentos, tanto em troca de serviços como agrados em relação as festividades.
Vale ressaltar que a única parte que fundamentalmente
é dominada pelas mulheres e crianças é a moradia. Ao lado da casa central
existem outras habitações menores onde habitam famílias nucleadas e
aparentadas, sendo que todos eles compartilham a parte central da casa pois é
lá que estão localizados os depósitos de alimentos e o fogo.
Além das casas se encontram os caminhos para
as roças e para a floresta, local que utilizam tanto para encontros amorosos
como para o contato total com os espíritos sobrenaturais. Eles acreditam que
todas as transformações, tanto homem em bicho como bicho em homem são feitas nesse
local pelo contato direto com a parte espiritual.
Como visto acima, a Aldeia Kamaiurá é formada
por um conjunto de casas, sendo que cada casa tem as suas famílias nucleadas. Cada
casa também contém um líder que delega a função para os demais participantes do
conjunto. Uma das regras de residência é relacionada ao casamento, nela diz que
nos primeiros cinco anos de casados o marido deve ir morar na casa do sogro,
pagando sua estadia e a concessão da mão da esposa com trabalhos diários, após
esses cinco anos o casal pode ir morar em outra residência, normalmente é a
casa de origem do marido. Essa regra não é aplicada no caso do homem já ser
casado, nesse caso a mulher vai morar na residência do marido que paga a
concessão com bens. Com esses casamentos é feita uma grande aliança entre as
casas.
Em relação a formação do indivíduo Kamaiurá,
as regras não são muito diferentes dos Xavante. Os homens também ficam reclusos
por um determinado período que está intimamente ligado a sua importância social
quanto homem, sendo que o tempo máximo é de cinco anos. Nesse período de
reclusão eles aprendem os diversos afazeres masculinos e treinam para a luta do
huka-huka. A diferença em si está na formação das mulheres, aqui quando elas
entram na puberdade também ficam reclusas, só que por no máximo um ano, assim
que a primeira menstruação desce. Nessa reclusão elas aprendem os afazeres
femininos, tanto artesanais como na preparação dos alimentos. Um fato
interessante é que durante esse período de reclusão as mulheres não podem
cortar seus cabelos, tornando as franjas grandes o suficiente para passar da
marca dos olhos.
Sobre a nomenclatura ela é feita basicamente
assim: Quando o índio nasce recebe o nome do avô paterno, após furar as orelhas
recebe outro par de nome, também dos avós só que agora paterno e materno, esse
nome o acompanhará pelo restante da vida. Com as mulheres o sistema de
nomenclatura é o mesmo.
A unidade política dessa etnia se concentra na
aldeia. O líder é o mediador entre os conflitos e desde muito novo passa por
todas as provações que essa posição social lhe confere. Seu poder é exercido
juntamente com os líderes das casas, que o apoiam e passam para seus residentes
as ordens que o líder da aldeia dá. Esse cargo tem uma regra de sucessão muito
flexível o que costuma gerar muita competição entre quem o deseja.
O Sistema Ritual do Alto do
Xingu
Existe
uma grande articulação entre os povos alto-xinguanos o que confere para os
Kamaiurá a crença de uma mesma criação para todos esses povos. Um dos grandes
rituais que podemos utilizar de exemplo é o Kuarup, que é a despedida dos
mortos, uma grande celebração feita em uma aldeia que reúne diversas etnias
dessa região para uma dramatização de despedida para os entes falecidos, aqui
também tem as famosas lutas do huka-huka e eventuais trocas de artesanato.
Se por um lado no Kuarup a solidariedade
alto-xinguana é demonstrada com grande força e evidencia, na festa do Jawari
isso é negado. Nela é celebrada a diferença e a rivalidade entre esses povos,
sendo que apenas um grupo é convidado. Aqui o ponto alto é a competição de
arremesso de flecha.
Assim conseguimos visualizar os opostos, a
solidariedade e a hostilidade. O que de certo modo é uma forma de manter a
unidade de cada um, creio que por isso os grupos se afastam dos demais, para
não perder suas características pessoais, já que grande parte das
características são divididas com os demais. A troca de bens por outro lado é
algo que eles praticam muito, criando assim uma vinculação econômica entre
eles.
Cosmologia
Aqui conseguimos perceber algumas áreas
distintas no tempo: o tempo mítico, o tempo dos avós e o tempo presente. Cada
um deles tem a sua representação sendo respectivamente: a criação do homem,
antes do contato com os homens brancos e os primeiros contatos com os homens
brancos até atualmente.
Uma das versões do mito de criação dos
Kamaiurá conta que tanto eles como os brancos são criados por Mavutsinim, que
despeja o sangue dos Kamaiurá nos brancos para que eles existissem. A criação
de ambos foi com o propósito de formar uma grande aldeia. Quando os dois se
tornaram adultos Mavutsinim criou um lindo arco negro e a arma de fogo,
mandando que o Kamaiurá pegasse a arma e o branco o arco, mas o índio encantado
com a beleza do arco desobedeceu Mavutsinim, deixando o mesmo irado, o que fez
com que ele separasse os dois povos e desse todos os seus bens mais valiosos
para os brancos, dando apenas o peixe e o beiju para o índio.
Eles acreditam que quando alguém morre vai
para uma aldeia celeste réplica da terrena, mas diferente daqui lá eles não
precisam trabalhar e vivem sempre enfeitados, não comem beiju e peixe e sim
grilo e batata. Quando alguém morre deve ser enterrado enfeitado para assim
chegar a essa aldeia, se o falecido for homem um arco com flechas é enterrado
junto, se for mulher um fuso, para que consigam chegar em segurança e se
defender dos passarinhos que querem tirar pedaços deles para levar ao temido gavião.
Acreditam também que se a alma morre nesse percurso não tem mais volta, tudo
acaba de uma vez.
Atividade Produtiva
A agricultura aqui tem o grande papel de
destaque, é dela que provém os ingredientes para o fabrico do Beiju. Aqui o
líder da casa organiza a cooperação entre as demais famílias para o plantio da
mandioca, mesmo que cada uma tenha a sua roça particular. Os homens são responsáveis pelo preparo do
plantio e as mulheres pela colheita fora o processamento da mandioca e a
preparação tanto do beiju como do mohete, um caldo doce feito da fervura da
água que lavou a polpa da mandioca. O
produto derivado desse trabalho é mantido em um estoque comum dentro da casa,
sendo que seu consumo será feito por todos, independentemente da participação
individual de cada um.
O peixe constitui a única fonte de proteína animal
da dieta Kamaiurá e aqui é evidente a cooperação entre os homens da aldeia. A
pesca normalmente é feita pelo uso do Timbó, que é o envenenamento da água
represada anteriormente, o armazenamento dos peixes é feito nesse mesmo local
represado.
Na época das chuvas o peixe fica mais escasso
e é trocado por diversas frutas como mamão e melancia e diversos outros itens
como o milho e a abóbora. Vale ressaltar aqui que a agricultura deles também
visa o plantio de plantas cerimonias como o urucu, nesse caso o plantio e
colheita são individuais. A caça de algumas aves e coleta de frutas silvestres
também ajudam muito na variedade alimentar dessa etnia.
Tronco de kwarup. Foto: Aisanain Paltu Kamaiura, 1998. |
Kamaiurá lutam o Huka-huka. Foto: Eduardo Galvão, 1969. |
Chefe Kamaiurá. Foto: Miltom Guran, 1978. |
Fonte de informação:
pelo ducumentario gostei disso
ResponderExcluirMuito feliz em saber que gostou!
Excluiresse texto me fez aprender muito ja que sou uma crianca de 11 anos kkk
ExcluirQuais são as características deles
ExcluirBoa tarde jakline,
ResponderExcluirexiste a possibilidade de conversarmos por email ou telefone sobre a cultura desta aldeia?
Tadeu
Boa noite Tadeu, primeiramente desculpe a demora, ando negligente com o blog, mas ultimamente não tenho conseguido muito tempo. Faculdade suga a gente rs. Se ainda tiver interesse, meu e-mail é jak.costa@hotmail.com e meu whatsapp é 06281506183. No facebook é só pesquisar Jakline Costa que apareço também. Agradeço a atenção e novamente peço desculpas pela demora!
ExcluirQueria saber qual é o costume deles
ExcluirOlá gostei muito da reportagem. Gostaria de visitar os povos indígenas, sou matogrossense, meu pai é neto de índia, tribo nhambiquaras, vivo em SC mas amo meu MT e respeito muito e valorizo os povos originários, entre em contato se puder,
ResponderExcluirWths 48 988166196
AS ÍNDIAS ESTÃO DESCONFIADAS , INFELIZES COM homens brancos,todas no auri-verde ? PAOLO POETANCHOR REPÓRTER MONTENEGRO OP MG
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